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sábado, 26 de fevereiro de 2011

É possível modificar a situação do crime e da violência no Rio de Janeiro?

Seropédica, 23/2/2011.
José Cláudio Souza Alves
UFRRJ


Freqüentemente sou criticado pelo meu pessimismo quanto à questão da violência, no Rio de Janeiro e de forma geral. Foi assim, que ao longo do tempo, fui reconhecendo que o pessimismo metodológico que uso é de fato complicado.

Utilizo este pessimismo como uma forma de antídoto. Com ele evito as soluções simplistas. Como aquela prática dominante nos meios de comunicação, que sempre fecham uma matéria ruim com um exemplo de esperança, uma espécie de pílula tranqüilizante. Como mencionavam os generais da ditadura, ao elogiar o telejornalismo da época. Para mim, enquanto estamos caindo dentro do poço, não há condições de pensar em saída. Somente chegando ao fundo é que se pode avaliar quais as possibilidades reais. Apenas depois de um diagnóstico mais preciso da realidade é que podemos pensar em ações que consigam alterar de fato o quadro.

Ao longo dos meus estudos, observações, militância, debate público e convivência em relação à violência, consegui desenvolver uma abordagem pouco comum entre aqueles que se dedicam ao tema. Logo, não posso tratar de saídas ignorando estas raízes que me sustentam.

Falo de uma estrutura criminosa que é a grande herança maldita da ditadura militar que, há pelo menos 47 anos, vem funcionando e se aprimorando e que nunca sofreu uma alteração significativa quanto à redução ou controle social.

Diferente de outras áreas, nas quais a ditadura deixou seu legado, mas que por intermédio das lutas populares, dos movimentos sociais e da mobilização política, conseguiu-se obter conquistas favoráveis à população, sem ignorar as imensas contradições nesta disputa, a segurança pública se mantêm praticamente intocável com sua impermeabilidade às demandas sociais, ao diálogo público e ao controle por parte daqueles que são atingidos por ela.

Se eu seguir, porém, por este caminho, isto é, vincular saídas para o problema da violência à alteração da estrutura de segurança pública eu incorreria em um dos principais mitos construídos em torno da questão, o de achar que uma reestruturação do aparato policial, seu melhoramento administrativo, informacional, técnico, tecnológico, educacional, ético, pedagógico etc, seria o caminho mestre para a solução. Esta foi a principal cilada que atingiu Luis Eduardo Soares e, antes dele, Hélio Luz.

No caso de Hélio Luz, quando em 1991 foi convidado pelo vice-governador, Nilo Batista a assumir a chefia da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense, condicionou a aceitação a ter carta branca para mudar os 12 delegados da Baixada. Condição aceita trocou os referidos delegados e consegui, naquele ano, uma redução de 500 homicídios, aproximadamente 25% do número de assassinatos da Baixada. Mas se ele conseguiu um feito jamais alcançado por qualquer outro delegado no Rio de Janeiro, por que foi retirado de lá em 1992? Hélio Luz não tinha dúvida, quanto a sua saída. Sabia que em ano eleitoral as coisas mudariam. Em 1992, a máquina tinha de funcionar para acomodar os interesses eleitorais e políticos em jogo. Com cargo e conjuntura deferentes, Luiz Eduardo Soares sofreu das mesmas interferências, no governo Garotinho, que resultaram na sua saída.

O que estes fatos sinalizam é que o aparato policial não é uma ilha. Apesar de ser fechado para determinadas interferências e determinados segmentos sociais, ele opera de acordo com interesses políticos, econômicos, sociais etc, que se encontram fora dele, mas o controlam.

Por exemplo, um candidato a vereador ou deputado estadual reforça seus laços com matadores, traficantes ou milicianos transformando-os no núcleo de sua ação política em uma favela ou bairro periférico. Garante aos seus eleitores que manterá esta estrutura de controle social, a fim de preservar a tranqüilidade e a paz naquela comunidade. Eleito, fará aproximações junto ao grupo político dominante, no governo do estado, a fim de preservar seu acordo e, em troca, fornecer sua base eleitoral e seus serviços políticos na Câmara de Vereadores ou na Alerj, para sustentar o governo.

A transformação da crise atual da polícia na grande discussão sobre a solução para o problema do crime e da violência, no Rio de Janeiro, segue esta tendência institucional, ignorando a complexidade da questão. Reforçando a lógica burocrático-militarista que hegemoniza o debate público e midiático.

Se quisermos de fato buscar saídas, não temos outra escolha a não ser a da complexidade. Não há uma solução isolada, mágica, localizada em um único tema ou ponto do problema. Isto que estou mencionando não é novidade e encontra-se no Plano Nacional de Segurança Pública, que o governo Lula recebeu no início do seu primeiro mandato, feito com participação de militantes, movimentos organizados e intelectuais. Infelizmente, jamais implantado.

Neste caso, a dimensão policial é relacionada a várias outras dimensões e termina relativizada, abrindo-se para as diferentes faces do problema e suas inter-relações.

Ações em diferentes políticas públicas estariam articuladas. Deste modo, por ordem de prioridade, a permanência dos jovens nas escolas com atividades sócio-culturais, o acompanhamento psicológico, a assistência social, o acesso aos meios de transporte, um programa de renda e emprego, a urbanização das comunidades, a construção de equipamentos de saúde e cultura e, por último, a qualificação da polícia estariam organizados de modo a alterar a realidade geradora da violência e afetar de forma efetiva os mecanismos que nos transformaram no maior campo de concentração sem arame farpado do mundo, com milhares de pessoas assassinadas por ano.

Estas soluções, contudo, ainda se encontram numa esfera de poder público e, portanto, dependentes de vontade política para serem implantadas. Continuamos, assim, presos à dimensão interna do aparelho estatal e dos grupos dominantes que o controlam.

Esta articulação de políticas públicas pode ser uma meta, mas seria dificilmente alcançada numa conjuntura em que grupos políticos e o grande capital se mobilizam a fim de extrair o super-lucro, econômico e político, do projeto urbano-industrial hegemônico no Estado do Rio de Janeiro.

Projetos como o arco-metropolitano que soterra sítios arqueológicos, como o de Japeri; o porto de Itaguaí, com as águas da baia de Sepetiba privatizadas por cada empresa ali instalada; a CSA matando moradores, plantas, peixes e solo com sua limalha em nuvens de poeira de ferro; o Comperj, a nova refinaria de petróleo em Itaboraí, com sua poluição atmosférica e a enorme demanda sobre os recursos hídricos da Serra dos Órgãos; o aterro sanitário da empresa Ciclus/Hastec/SA Paulista e a contaminação do aqüífero Piranema, em Seropédica, autorizado pelo INEA, órgão do Estado responsável pelo licenciamento ambiental; a nova subida da serra de Petrópolis, da Concer, com seus mais de 20 quilômetros de túneis e suas chaminés de monóxido no meio da mata e a liquidação econômica das famílias que vivem da venda de produtos na atual estrada de subida etc, o Porto Maravilha com seus projetos imobiliários de milhões de reais, reincorporação urbana para o capital financeiro e grandes empreiteiras, e a consequente expulsão da população pobre, não nos permitem pensar em nenhuma conjuntura favorável a investimentos em políticas públicas voltadas para a superação da violência, de uma forma mais efetiva.

Voltamos, de novo, a estaca zero. Temos de pensar movimentos possíveis, mesmo que pequenos e insignificantes, diante da macro-dimensão do problema. Algo numa dimensão mais intermediária e mesmo primária, quando comparada à estrutura política. Penso então em ações educativas, formativas nos diferentes espaços organizativos: escolas, sindicatos, movimentos sociais, ongs, por exemplo, que promovam a ampliação destas reflexões. Que se propunham a construir uma cultura diferente daquela do “bandido bom é bandido morto”, da aceitação da execução sumária como saída, da segregação de áreas pobres.

Um movimento que quebre o isolamento segregacional, a partir do fluxo de pessoas e ações entre as favelas/comunidades e resto da sociedade. Não na dimensão subordinada, clientelista e mantenedora do controle político, mas na formação de novas visões, na identificação da cooptação, na resistência e insubordinação, na criatividade de novas formas de aproximações sociais .

A construção de outra subjetividade, que de voz e rosto ao criminoso hoje trucidado e banalizado. Que mergulhe na compreensão de quem é este hoje executado e sua história. A veiculação de uma cultura que em todas as suas formas: musicais, cênicas, áudio-visuais resista à criminalização do pobre e sua execução pelo grupo dominante. A contra-hegemonia de uma cultura que supere o preconceito e o medo, que negue a raiva e a violência como resposta legitimadas.

O que tentei mostrar aqui não são saídas. Apenas problematizei a busca delas. Operações que prendam policiais criminosos, a formação e qualificação polícia, o aperfeiçoamento do aparelho judiciário só serão eficientes quando articulados a modificações políticas e econômicas que afetem os interesses dominantes, que controlam as políticas de segurança. As políticas públicas voltadas para a questão da redução da violência precisam ser articuladas e não transformarem o aparato policial em instrumento principal, como as UPPs e a policização das políticas sociais nas comunidades ocupadas. Nada disto adianta sem uma alteração intermediária dos fluxos espaciais entre diferentes segmentos sociais, a solidariedade com os mais vitimizados, a criação de uma subjetividade que se coloque no lugar do mais pobre e criminalizado, que seja capaz de ouvi-lo e entender sua linguagem. Enfim, um movimento microfísico e capilar que altere de forma profunda a percepção que temos dos estratos sociais que tememos que nos sejam apresentados como os inimigos número um da sociedade.

A partir destes passos articulados podemos falar de uma contracultura, em movimentos de resistência, em práticas formativas, políticas e relacionais que pensem representações políticas, políticas públicas, projetos de cidade e de economia outros que não os que hoje nos impõe este padrão de violência.

Isto não significa secundarizar a luta política mais ampla e horizontalizar as saídas através da dimensão cultural e subjetiva. Numa conjuntura desfavorável é preciso acumular forças. É preciso construir massa reflexiva e articulá-la a projetos políticos, capazes de estabelecer compromissos mais sólidos. Não há conjuntura revolucionária, nem tão pouco estamos nas catacumbas do Império Romano, como os cristãos que alimentavam os leões no Coliseu. Acredito em um processo lento, complexo, com visibilidades ora expressivas ora contraditórias que aproximando à macro e a micro estrutura política e econômica permitam modificações favoráveis a projetos de transformação e rupturas sociais capazes de devolver a todos nós o senso de solidariedade, igualdade e justiça. A possibilidade de sermos um País. De não ter a bandeira brasileira como um mero trapo, enfincada na colina, a lembrar-nos que os mais pobres e segregados estarão sempre fora das possibilidades da assim chamada sociedade de direitos. Este mais avançado estágio da humanidade, que nos querem fazer crer que é o melhor. 
 

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Segundo João Batista Libânio, A Igreja Católica mergulha em longo processo neoconservador.

por IHU
Recentemente, teólogos e teólogas alemâes, suíços e austríacos lançaram um manifesto propondo reformas para a Igreja em 2011. A convite da IHU On-Line, o teólogo João Batista Libânio  leu o documento e analisou as propostas, concedendo por e-mail a entrevista a seguir. Resumindo, ele é enfático: "A tônica do projeto do Papa e a do manifesto divergem".
Com a experiência de quem presenciou "nítidos momentos no processo eclesiástico" da Igreja nas últimas décadas, Libanio ressalta que o manifesto "alude ao fato de que em 2010 ‘tantos cristãos, o que jamais ocorrera antes, deixaram a Igreja e apresentaram à autoridade da Igreja a desistência de sua pertença ou privatizaram sua vida de fé para defendê-la da instituição'". A constatação do êxodo cristão, entretanto, "não abala a convicção do projeto de manter uma Igreja, embora minoritária, mas fiel aos ensinamentos dogmáticos, morais e à prática disciplinar eclesiástica", assinala. 
Para ele, Roma reforça a autoridade sobre as igrejas locais porque elas a solicitam. "A geração profética do porte de Dom Helder deixou-nos ou já está envelhecida. E a nova safra eclesiástica revela outro corte", lamenta.
Libânio também comenta a nomeação de bispos brasileiros para integrarem a Cúria Romana e diz que as atuais nomeações "respondem ao atual perfil de Roma. (...) Isso não vem de nenhum prestígio especial do episcopado brasileiro, como tal, além do peso estatístico".
João Batista Libânio é padre jesuíta, escritor e teólogo. É doutor em Teologia, pela Pontifícia Universidade Gregoriana (PUG) de Roma. Atualmente, leciona na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia e é Membro do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais. É autor de inúmeros livros, dentre os quais Teologia da revelação a partir da Modernidade (5. ed. Rio de Janeiro: Loyola, 2005), Qual o caminho entre o crer e o amar? (2. ed. São Paulo: Paulus, 2005) e Qual o futuro do Cristianismo? (2. ed. São Paulo: Paulus, 2008).
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Qual sua reação ao manifesto que propõe reformas para a Igreja em 2011, elaborado por teólogos alemães, suíços e austríacos?
João Batista Libânio - Impressiona, logo à primeira vista, o conjunto de assinaturas de teólogos da mais alta competência e responsabilidade. Portanto, não subscreveriam nenhum manifesto superficial, imprudente. Concordemos ou não com as proposições, ele merece séria consideração e detida atenção.

Parte do inegável mal-estar que afetou não só a Igreja Católica alemã e de alguns países por causa do escândalo da pedofilia, mas de toda a Igreja por ver-se nele a ponta de um iceberg de maior amplitude: a falta de liberdade e de transparência no interior da Igreja devido ao cerceamento das instâncias de poder eclesiástico. Por isso, o manifesto bate forte na tecla das estruturas de governo da Igreja Católica.
IHU On-Line - A partir da sua trajetória sacerdotal, o senhor também concorda que a Igreja precisa ser reformada? Quais seriam as reformas urgentes?
João Batista Libânio - Os anos me permitem perceber três nítidos momentos no processo eclesiástico das últimas décadas. Ainda conheci estruturas hieráticas no pontificado de Pio XII, que lançava a imagem do poder eclesiástico onisciente e onipotente. Roma pronunciava-se sobre os mais diversos assuntos e com a consciência de dizer verdades inquestionáveis. Não se percebia sinal de dúvida ou perplexidade. Isso acontecia com duplo efeito. Positivamente, oferecia aos católicos fieis enorme segurança sobre temas desde a astronomia até a intimidade da vida conjugal. Para aqueles que já tinham recebido o impacto da modernidade liberal, democrática, marcada pela subjetividade, autonomia das pessoas, consciência história, práxis transformadora, tais declarações romanas produziam enormes dificuldades e mal-estar.
Veio então João XXIII. Convoca o Concílio Vaticano II que inicia, com certa coragem, o diálogo da Igreja com a modernidade. Usando a imagem da música "andante ma non troppo", a Igreja caminha em direção ao repensamento doutrinal e pastoral, provocado pelos questionamentos teóricos e práticos levantados nos últimos séculos. No entanto, o tempo de aggiornamento não durou muito. Já no próprio Pontificado de Paulo VI, a partir de 1968, despontam sinais de contenção e retrocesso. E depois a Igreja Católica mergulha em longo processo neoconservador que dura até hoje. As inovações iniciadas no Vaticano II se interromperam e outras não surgiram, exceto em um ou outro gesto ousado de João Paulo II, como a Oração pela Paz em Assis com os líderes das diferentes religiões do mundo. Ainda que o clima geral não fala de abertura, entretanto percebe-se-lhe a necessidade.
IHU On-Line - O manifesto também propõe uma reconversão da Igreja. O que o senhor entende por esta proposta?
João Batista Libânio - A Igreja tem a enorme graça de pôr como referência última, principal, insuperável a pessoa de Jesus Cristo. E quanto mais se conhece o Jesus histórico, mais se percebe a força revolucionária de sua pessoa. Ele não deixa nenhuma estrutura esclerosar-se, sem que lhe seja acicate de mudança. Menciono de passagem o maravilhoso livro de J. Pagola, Jesus: aproximação histórica(Petrópolis: Vozes, 2010), que nos descreve e narra um Jesus colado à realidade no projeto maior de devolver às pessoas a dignidade.
Diante dessa figura de Jesus, muitas estruturas eclesiásticas sofrem terrível crítica. A partir dele, cabe falar de contínua reconversão da Igreja. Basta comparar a figura de Jesus andarilho, de Pedro pescador e crucificado em Roma com certas aparências poderosas clericais para ver a gigantesca distância e a força crítica de Jesus. Santo Inácio de Loyola apostava na força de conversão da contemplação dos mistérios de Jesus. Isso vale em nível pessoal, comunitário e eclesiástico. Em confronto com a pessoa de Jesus, a Igreja se vê questionada continuamente a assumir formas de humildade, simplicidade, pobreza, abandonando o luxo, o esplendor, a arrogância triunfante.
IHU On-Line - O manifesto diz ainda que somente através de uma comunicação aberta a Igreja pode reconquistar confiança. Em que consistiria uma comunicação aberta com a sociedade? 
João Batista Libânio - Só existe comunicação aberta se se abrem canais de entrada e saída. De entrada nos recônditos dos segredos, nas manipulações e jogadas maquiavélicas, nas tramas urdidas na noite do anonimato. Existe limite difícil de ser traçado do direito ao sigilo de consciência, de reputação das pessoas e comunicação transparente. Portanto, não se trata de questão fácil. Entre os extremos da cultura Big Brother - da total e perversa transparência - e dos sigilos cabalísticos de verdades a que os fiéis têm direito de conhecer, existe um meio termo de clareza e de possibilidade de acesso. O canal de saída refere-se à liberdade de expressão das pessoas no interior da Igreja a respeito da vida da Igreja. No embate da discussão encontram-se melhores caminhos que na proibição da mesma.
IHU On-Line - É possível a Igreja romper com tradições, se renovar sem perder seus princípios básicos?
João Batista Libânio - Não se trata nem de romper nem de engessar a Tradição, ou mais corretamente as tradições. Na polêmica com  Mqr. Lefevre, que defendia a literalidade da Tradição e das tradições, Paulo VI insistia na necessidade de interpretá-la (s). Eis a questão! Os princípios permanecem no nível universal, abstrato. Importa ver como eles são entendidos nas situações concretas. E aí está o problema. O trabalho interpretativo tem exigências. Implica esforço da inteligência de captar três coisas. O significado da questão no contexto primeiro em que ela foi formulada e respondida. Esta mesma questão como se entende hoje. E, então, como o significado de ontem se reinterpreta para hoje. Por exemplo, a usura, cobrar mais do que se emprestava, até o nascimento do capitalismo se considerava roubo, portanto eticamente condenável. Hoje, ela se chama juros e ninguém os considera imorais. Então, como se fez a transposição de um princípio ético no pré-capitalismo para o capitalismo?
Numa economia estável sem circulação monetária parecia injusto receber mais do que se emprestava. Nisso consistia a injustiça. Numa sociedade em que o dinheiro se tornou fonte de renda, se considera injustiça só quando as taxas de juros superam de muito a força de rentabilidade. Recebe o nome de agiotagem. Mas cobrar taxas razoáveis não contradiz o princípio ético pré-capitalista no significado, embora materialmente pareça opor-se a ele (usura). Problemas semelhantes se levantam em muitos campos.
IHU On-Line - O documento também chama a atenção para a necessidade de reconhecer a liberdade de consciência individual, referindo-se também a opção sexual dos indivíduos. Entretanto, observa que "a alta consideração da Igreja pelo matrimônio e pela força de vida sem matrimônio está fora de discussão". Parece algo contraditório?
João Batista Libânio - A consideração anterior que fiz no campo das finanças vale no campo da sexualidade. Os ensinamentos morais da Igreja sobre o matrimônio permanecem válidos na linha dos princípios. E cabe perguntar-nos pelo seu significado profundo que diz respeito à dignidade humana, ao respeito das relações afetivas. Que significam o respeito e a dignidade nas relações humanas na união homoafetiva ? Não se responde em abstrato, mas a partir das experiências que se fazem no concreto da vida. Tanto nas relações matrimoniais como nas homoafetivas existem tanto dignidade, respeito como o oposto. E as considerações éticas descem ao concreto de tais relações para aí interpretar o princípio fundamental da dignidade humana, do respeito entre as pessoas, o projeto de amor de Deus.

IHU On-Line - O que significam os casos de pedofilia na Igreja?
João Batista Libânio - Revelam a face pecadora dos homens e mulheres de Igreja em todos os níveis: do simples fiel até pessoas da alta hierarquia. Em face do pecado, cabem, em primeiro lugar, a conversão e o perdão de Deus. Quando o direito de outras pessoas é lesado, como no caso da pedofilia que fere gravemente a criança envolvida, entram fatores de reparação desde a econômica até a judicial. Nada justifica o ocultamento, mas importa tomar as medidas concretas para evitar outros casos, sanear o acontecido, reparar o estrago feito.
Evidentemente, não tem sentido entrar no sensacionalismo da mídia. Está em jogo algo sério demais para ser simplesmente assunto de folha policial em ocasião para jogar pedras na Igreja. Não se pensa em acabar com a família, embora nela aconteça a imensa maioria dos casos de pedofilia. A mesma mídia que divulga, "escandalizada" casos de pedofilia, termina sendo uma das causas importantes da decadência moral da sociedade com a enxurrada de programas de banalização do amor, de sexualização das crianças, de exibicionismo e voyeurismo sexual, da perda de senso de responsabilidade social. A luta contra a pedofilia exige programa complexo de purificação das fantasias, de presença maior de educação sadia, de melhoria de cultura veiculada pela mídia.
IHU On-Line - Quais são as perspectivas e os desafios da Igreja para esta segunda década do século XXI?
João Batista Libânio - Distingamos os níveis. No momento, em nível das estruturas internas da Igreja não se veem perspectivas animadoras. Durante o longo pontificado de João Paulo II, a Igreja Católica viveu o paradoxo, de um lado, de rasgos de abertura na prática do diálogo inter-religioso, na defesa dos direitos humanos, na oposição a toda guerra enfrentando, inclusive, as pretensões americanas, na proximidade com o mundo dos pobres e, de outro, de enrijecimento doutrinal e disciplinar interno. No horizonte, não se percebe que a Igreja enfrentará os novos desafios da cultura contemporânea por meio de mudanças internas, como fez, em parte, logo depois do Concílio Vaticano II. Falta o clima de abertura, de otimismo e de profetismo para lançar-se em transformações profundas. Em termo de hierarquia, reina antes momento de silêncio, de prudência sem muita inspiração e lanço de coragem inovadora. A geração profética do porte de Dom Helder deixou-nos ou já está envelhecida. E a nova safra eclesiástica revela outro corte.
No universo dos leigos há sinais de esperança nas comunidades de base, na crescente participação consciente e ativa das mulheres, no maior desejo de espiritualidade e teologia, na vitalidade de novos ministérios, na criatividade litúrgica, no acesso amplo às Escrituras pela via da leitura orante. Em algumas igrejas particulares a Assembleia do povo de Deus anuncia algo de novo, desde que a clericalização não a prejudique.
IHU On-Line - O senhor concorda com a tese de que o Vaticano está enquadrando a Igreja no Brasil?
João Batista Libânio - Cícero chamou a história "mestra da vida". Lancemos um olhar para os últimos séculos a fim de entender a relação entre o Vaticano e as igrejas locais. Gregório VII, no século XI, deu a decisiva guinada da autonomia das igrejas locais para crescente poder de Roma. Ele pautou o governo pontifício pelo dictatus papae, que ressuda centralismo, autoritarismo desmedido. Esse longo processo de quase mil anos marcou uma linha de comportamento em que Roma exerce imensa influência sobre as Igrejas particulares ou regionais. O Concílio Vaticano II, com a colegialidade, tentou diminuir tal tendência, mas com pouco resultado. Faz parte, portanto, da consciência comum eclesiástica a dependência em relação a Roma. E a dialética de dependência de uma parte pede o exercício de domínio da outra.
A criança que pergunta a mãe que meia vai usar pede uma mãe cada vez mais absorvente que termina ditando-lhe tudo. Assim na Igreja. Roma responde com autoridade e a reforça porque as próprias igrejas locais a solicitam e ficam à espera. A liberdade se entende como relação entre duas liberdades. Não há liberdade de um lado só. Que o diga Erich Fromm no magistral livro Medo da liberdade. As análises que lá faz, baseadas em sua experiência do nazismo, valem para toda relação de submissão e de autoritarismo, onde ela se dê. No dia, porém, em que as igrejas locais tomarem maior consciência de outra eclesiologia, então a Igreja de Roma também lentamente afinar-se-á com ela. O processo se institui de ambas as partes simultaneamente em mútua relação e influência.
Quanto mais a Igreja do Brasil marcar a originalidade, a liberdade, a autonomia, tanto mais Roma a reconhecerá. Se ela, porém, está a esperar para cada palavra que disser um sorriso aprobatório de Roma, a liberdade se encurtará e a autonomia se dissolverá. Quem age sob o olhar de um outro, termina condicionando-se de tal modo que perde a própria identidade.
IHU On-Line - Como avalia a notícia de três nomeações de bispos brasileiros para ocupar cargos importantes na Cúria Romana? O que isto significa? Terá algum impacto na CNBB?
João Batista Libânio - A nomeação dos membros da Cúria Romana obedece ao difícil jogo de interesses e preocupações. Não creio que o caráter nacional, no caso, o fato de ser brasileiro, seja predominante. Entram em questão outros critérios de linha teológica, ideológica, de indicações de pessoas influentes, de vinculação a movimentos de igreja, de serviço prestado. Em termos modernos, falamos de "perfil". As firmas, as instituições contratam ou dispensam funcionários dando como razão o fato de corresponderem ou não ao seu perfil. Analogamemte vale no caso da Igreja. Julgo que os bispos brasileiros escolhidos para cargos romanos respondem ao atual perfil de Roma. Coincide que vários brasileiros corresponderam a tal retrato e então foram escolhidos. Isso não vem de nenhum prestígio especial do episcopado brasileiro, como tal, além do peso estatístico.
IHU On-Line - Como vê a atual internacionalização da Cúria Romana? Como propõe o manifesto, a sociedade deveria ajudar a escolher os representantes?
João Batista Libânio - A internacionalização traz vantagens. Mas não decide por si mesma. Acontece que a cor internacional desaparece facilmente por homogeneização ideológica por força da instituição. Se cada nação levasse para dentro da Cúria Romana a própria originalidade e a conservasse em contínuo diálogo com a predominante cultura europeia e romana, então a internacionalização causaria outro efeito.
Bispos latino-americanos, africanos ou asiáticos que arribam a Roma se romanizam a ponto de não se distinguir muito dos outros. Outra coisa significaria se as igrejas locais se fizessem presentes em Roma por meio de seus representantes, escolhendo-os e eles fazendo-se porta-voz delas. Mais: se elas mesmas decidissem na escolha dos ministros que as servem ou vetassem aqueles que não as satisfizessem. Assim evitaríamos casos desastrosos que tivemos de bispos, párocos ou pessoas em outras funções que durante décadas exerceram funções com detrimento da vida eclesial em vez de construí-la e os fieis tiveram de suportá-los calados e sem poder de mudança. Certos aspectos da sociedade democrática não contradizem, teologalmente falando, a maneira de designar membros da hierarquia. A escolha pode ser democrática, embora a conferição se faça pela graça do sacramento.
IHU On-Line - O que significa, para a Igreja brasileira, a nomeação de Dom Odilo Scherer no Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização?
João Batista Libânio - Como disse acima, os critérios de escolha das pessoas respondem antes ao perfil buscado pelo Vaticano para determinada função e ao peso de influências indicativas que à origem nacional. E o perfil se define pela combinação do histórico do bispo em questão e as conveniências da Instituição. Para alguém que está fora desse jogo fica muito difícil fazer juízo objetivo sobre as indicações. No início de cada governo no mundo da política, assistimos ao delicado jogo da escolha das pessoas para os cargos. Nem todos os indicados e escolhidos respondem ao desejo do presidente ou do papa, no caso da Igreja, mas entram na lista para cumprir uma série de acordos necessários para o governo. A política eclesiástica não escapa totalmente dessa regra.
IHU On-Line - Está em curso a consolidação do programa ratzingeriano para a Igreja do Brasil?
João Batista Libânio - Teríamos que conhecer de antemão o programa do Papa. Os papas, em geral, não fazem discursos programáticos, mas dogmáticos. E supõe-se arguta análise para perceber sob as afirmações doutrinais que tipo de prática de governo subjaz. Aventuraria dizer que Bento XVI atribui relevância especial à qualidade da pertença à Igreja e não se impressiona tanto com a diminuição estatística. O manifesto dos teólogos alude ao fato de que em 2010 "tantos cristãos, o que jamais ocorrera antes, deixaram a Igreja e apresentaram à autoridade da Igreja a desistência de sua pertença ou privatizaram sua vida de fé para defendê-la da instituição". Enquanto percebo, tal constatação não abala a convicção do projeto de manter uma Igreja, embora minoritária, mas fiel aos ensinamentos dogmáticos, morais e à prática disciplinar eclesiástica.
No projeto de Igreja em curso, a fidelidade, a exatidão doutrinal e a coerência prática disciplinar merecem relevo preponderante mesmo que à custa de êxodo de católicos.
O manifesto pondera a questão do isolamento da Igreja em relação à sociedade. Tal fato, porém, não se entende na percepção pontifícia de modo negativo, enquanto fechamento, mas como exigência de coerência com a própria mensagem a despeito da incompreensão por parte da mentalidade moderna.
Outra coisa, como parece supor o manifesto, tal aspecto implicaria incongruência com o projeto salvífico de Jesus. A questão teológica se desloca. Até onde tal programa eclesiástico afasta-se do reino anunciado por Jesus? Acusação grave que precisa ser bem pensada e discutida de ambos os lados. A tônica do projeto do Papa e a do manifesto são divergentes. No primeiro caso, volta-se para a Igreja e quer mantê-la na sua atual estrutura e, a partir daí, cumprir melhor sua função. No outro, propõe-se o projeto de Jesus e se pergunta como adequar as estruturas da Igreja a ele. Pontos divergentes que geram leituras diferenciadas. Só o diálogo mostra o limite e a positividade de cada perspectiva. O manifesto acentua: primeiro a liberdade individual e de consciência e a partir dela a fidelidade. A atual disciplina eclesiástica: primeiro a fidelidade à doutrina e à prática e aí dentro a liberdade.
O mesmo vale de outros pontos acentuados pelo manifesto: participação dos fiéis, comunidade de partilha, reconciliação dos pecadores e celebração ativa, enquanto o projeto eclesiástico em curso entende tais demandas a partir dos quadros jurídicos traçados para a participação, para a vida de comunidade, para a reconciliação e celebração e não à sua revelia ou à exigência da sua mudança. Nessa tensão consiste, segundo minha leitura, a divergência maior entre o manifesto e o que está em curso atualmente no seio da Igreja Católica.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Mensagem de D. Hélder para a Igreja e seus desafios atuais.

Correspondente registrou os diversos momentos da revolução, dos ataques a jornalistas até a queda de Mubarak

Após 15 dias no Egito, brasileiro volta ao Brasil e faz palestra no Rio de Janeiro


Nesta quinta-feira, dia 17, Luiz Gustavo Porfírio retorna ao Brasil depois de passar 15 dias acompanhando os atos no Cairo.  Ele esteve diariamente na Praça Tahrir, com os manifestantes que acabaram retirando o ditador Hosni Mubarak do comando do país. Neste período, Luiz enviou notícias e entrevistas ao jornal Opinião Socialista e manteve um blog e uma conta no twitter, onde publicava notícias direto dos atos na Praça.

De volta ao Brasil, Luiz fará palestras nos estados. Na sexta-feira, 18, às 18h, ele conta a sua experiência em uma palestra no Centro do Rio (Tv. do Paço, 23, 14º andar). “Foi incrível poder ver de perto uma revolução acontecendo. E testemunhar a força do povo egípcio, que não desistiu, mesmo depois de quase 300 mortes”, conta. Luiz chegou ao Cairo no dia 2 de fevereiro, horas depois de bandos avançarem contra os manifestantes na Praça, com cavalos e camelos. As imagens impressionaram o mundo todo e, junto com as ameaças aos jornalistas, mostraram também o risco que envolvia a cobertura.

“Passei por muitas barreiras, com homens armados, com barras de ferro. A primeira vez que me senti seguro foi na Praça, após o ato de sexta-feira”, revela. Luiz conta que o povo egípcio e os jovens acampados na Praça Tahrir eram muito solidários. “Foi uma experiência única que aconteceu ali naqueles dias. Uma fraternidade, onde todos participavam, com um só objetivo. Era muito bonito de se ver”, conta.

Um dos momentos mais marcantes para ele ocorreu na Praça Tahrir, no dia 10, quando Mubarak fez um discurso na TV. “Todos acharam que ele iria renunciar naquele dia, e correram para a Praça. Descobri que é possível juntar um milhão de pessoas em total silêncio”, lembra. A renúncia só veio no dia seguinte, e Luiz estava lá, acompanhando a festa dos egípcios. “Fui abraçado, beijado. Nunca vi tanta alegria reunida”.

Luiz é historiador e pesquisa a história e a luta do povo palestino. Mesmo deixando o Egito, ele seguirá acompanhando o destino desse país. “Eles conseguiram derrubar um ditador, mas o governo ainda está na mão dos militares". Segundo ele, várias lideranças querem um governo civil no país e todas as liberdades. "Eles não querem uma revolução pela metade”, afirma.

Ele estará em um debate nesta quinta, 17, em São Paulo. Na sexta, 18, vai ao Rio de Janeiro. A cobertura completa da viagem está no blog http://umbrasileironoegito.wordpress.com, que ele seguirá atualizando nas próximas semanas.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Fé, Arte e Transformação Social


No último sábado dia 12 de fevereiro o programa Fé e Política, cujo tema está expressado no título desta postagem. Dois forma os convidados Leon Góes ator e professor da CAL (Casa de Artes Laranjeiras), e não podia deixar de mencionar filho de um ilustre Comunista Cristão Moacyr de Góes, autor do projeto "De Pé no Chão Também se Aprende a Ler" que pode ter lhe custado a perseguição dos militares durante o Golpe de 1964, quando era Secretario de Educação da prefeitura de Natal. E o Pe. Antônio Francisco Lelo autor e assistenta da Paulinas Editora para área de liturgia e catequese.
Num debate franco e gostoso Leon Góes e Pe. Lelo apresentaram o papel, não necessário, mas presenta da arte enquanto ferramenta de educação e transformação social quando esta consegue, sem a devida pretensão elevar a auto estima e a leitura de textos e obras que até então o ator não tinha se deparado ainda, o exercício de decorar um texto e incorporar uma oersonagem traz em si um processo educador mas não pedagógico, que segundo Leon Góes, tornaria a arte da representação uma tarefa chata que atrapalharia o entretenimento que é o papel fundamental da arte, em geral e do teatro, em particular.


A dimensão política também está presente na arte dramática quando esta é feita por seres-humanos que são animais politicos por excelência, assim, segundo Leon Góes e Pe. Lelo, toda vez que atua na Igreja e/ou sociedade visando a melhoria da qualidade de vida (e o lazer se insere nas necessidades básicas do cidadão) estamos desempenhando uma função política identificada com o projeto de Deus e o seguimento de jesus.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

A Juventude e o Movimento estudantil.

"A conjuntura é outra as lutas são outras mas a juventude continua na vanguarda dos processos de transformação pelo mundo afora".
Com esta frase, um dos produtores e apresentador André Barroso, do Programa Fé e Política da Rabio Comunitárioa Bicuda FM (98,7), que vai ao ar todo sábado das 12h às 14h encerrou programa do último sábado do qual participaram o deretor da UNE (União Nacional dos Estudantes) Daniel, aluno do curso de Ciências Sociais da UFRJ, o militante do movimento estudantil Mitã Chaufun, aluno do curso de Educação Física da UFRJ e Gabriel diretor da ANEL (Associação Nacional dos Estudantes Livre) e aluno do curso de Letras da UFRJ.
 A ANEL organizadas por militantes do PSTU e outros estudantes independentes que fazem severas críticas à política para as Universidades  e  para os estudantes do governo federal, já a UNE dirigida hoje e sempre mojoritariamente pelo PC do B, conta ainda com militantes do PT e PSOL, não faz, segundo a ANEL, uma defesa séria dos interesses dos estudantes.
Mais importante que o debate travado no decorrer do programa foi ter a clareza de que a juventude estudantil continua se mobilizando pelas grandes causas do país e do mundo, haja vista, o movimento estudantil contra a política de cortes das verbas para a educação de Berlusconi na Itália e de Mubaraki no Egito, somente para citar algumas mobilizações mais recentes, como foi o caso da greve Geral na França na final do ano passado.
No Brasil, o movimento estudantil está atento ao novo PNE (Plano Nacional da Educação) que será tema de debate desta legislatura, onde o movimento exige que 10% do PIB sejam aplicados na educação, porém entendemos que não basto votar os 10% temos que criar meios de fisscalizar a sua execução, pois, a forma como as universidades aplicam suas verbas não são claras, esta questão fica um tanto quanto pior, quando falamos de prefeituras e governos estaduais.
Tanto o diretor da UNE, quanto o diretor da ANEL foram uníssonos no que se refere a democratização do acesso à universidade e a incorporação das lutas sociais e do meio popular pelo movimento estudantil. Não ficou sem tratamento o debate em torno das políticas afirmativas para o movimento de estudantes negros (todos criticaram a retirada das cotas nas universidades para negros do estatuto da desigualdade racial) e das estudantes, pois, a conclusão a que chegamos foi que o racismo e o machismo existem na universidade e tem de ser combatido com veemência pelas entidades do movimento estudantil.
O Prouni e o ENEM também sofreram as suas críticas. Para o diretor da UNE Daniel,estes democratizaram em parte, o acesso de estudantes das classes C e D à universidade, porém é preciso avançar para a universalização do acesso, já o aluno Gabriel da ANEL, o Prouni não passa de financiamento público para universidades privadas sem o menor compromisso com a qualidade e o ENEM mascara uma política elitista de acesso que vigora no Brasil a décadas.
Enfim, o REUNI, que a política de aplicação dos recursos públicos na educação superior foi um avanço para o direção da UNE e um retrocesso para a direção da ANEL.
 Faz-se necessária registrar que o programa sempre conta com uma trilha sonora cuidadosamente escolhida pelos produtores elevada à execussão polo nosso querido Carlos Pet. Para o tema deste sábado Chico Buarque foi o homenageado todas as canções que separaram os blocos do programa.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A Juventude como lugar Teológico: Um problema para a Estrutura Hierárquica?

O tema proposta foi antecedido por uma breve, mas importante explanação sob o olhar sociológico do termo juventude, apontando questões como: o que esse grupo social? A qual faixa etária deve estar associado para ser analisado a partir da ótica sociológica, biológica e psicológica? A conferência da UNESCO, realizada na cidade francesa de Genoble, no ano de 1964, começa a delinear o que seria a juventude. Uma preocupação, traduzida em estudos das diversas ciências relacionada a este grupo, começa a ser desenhada efetivamente a partir da década de 1960, com os movimentos de contestação à ordem estabelecida, principalmente nos EUA e Europa, no interior das universidade, com grande repercussões para os movimentos culturais, o rock como música de protesto, tendo como seu maior expoente Bob Dylan. Este movimento atinge seu auge em 1968, com as movimentações juvenis na França e, sem deixar de destacar o Brasil, que vivia o contexto da ditadura militar, as manifestações como a Passeata dos Cem Mil, demarcaram a inquietação da juventude durante este período de grandes agitações.
Comparando as gerações de 1960 e a atual, a primeira buscava uma maior liberdade e alternativas para uma mudança radical de vida e nos rumos da humanidade, usando o protesto como sua maior arma. A geração atual busca uma colocação na sociedade, incluir-se neste processo cada vez mais acirrado de competição. A luta hoje é por melhor qualificação e melhores empregos. E, quando este jovem se vê excluído, é alvo fácil, nas comunidades mais pobres, da atuação do tráfico de drogas, e nas classes médias, as gangues de lutadores e, em alguns países, o ressurgimento de movimentos neofascistas e neonazistas.
Assim, como problema sociológico, é necessário uma atuação maior no sentido da formação integral desses jovens, pois a escola também, em sua metodologia, não tem dado conta dessas necessidades das quais este grupo tanto anseia e uma inserção mais intensa dos professores neste processo de formação. Uma das constatações, em meio às intervenções dos comunicadores e do convidado Júlio Mendes inicia o desenvolvimento de sua reflexão nesse respeito.
A provocação inicial foi a de que cada vez mais os jovens estão desinteressados do processo religioso, não seguindo os preceitos que embasam doutrinalmente tais instituições, pois o que está errado: seria a apatia “natural” dos jovens em relação à demanda social ou o modelo de Igreja apresentado não traz qualquer motivação para a participação do mesmo?
Assim, Júlio Mendes nos reporta um pouco da história de engajamento da juventude na Igreja a partir da chamada Ação Católica (JAC, JEC, JIC, JOC e JUC) que deram origem à Pastoral da Juventude. As lutas e demandas atuais são de outra ordem, e a vontade de transformar socialmente a sociedade foi substituída pelos medos que compõem a agenda da sociedade em geral e da juventude em particular.
Nessa perspectiva, não deveria deixar de mencionar o “grande rodo” e, a partir disso, os rumos da PJ na Arquidiocese do Rio de Janeiro, processo iniciado no ano de 1994, quando o bispo auxiliar D. Raphael Llano Cifuentes, responsável pela juventude, destituiu toda a CAPJ (Comissão Arquidiocesana de Pastoral da Juventude), não temos clareza a respeito da tomada de atitude da cabeça da Igreja do Rio de Janeiro, mas uma coisa podemos afirmar: a maturidade política e social daquela comissão de 1994 não podia se coadunar com nenhuma atitude autoritária e anti-democrática, assim aquele processo, se não acontecesse em 1994, aconteceria nos anos seguinte. Não citaremos os nomes que compunham aquela comissão para não cometer injustiças por esquecimento de alguns.
Assim, a partir de então, a própria PJ da arquidiocese trilha por um novo rumo, pois, segundo seu bispo responsável: “A PJ é um grande guarda-chuvas, onde todos os movimentos de jovens da Igreja Católica serão contemplados”. O que se observou foi a descaracterização de uma pastoral que possuía uma organização em nível até mesmo internacional, e seus componentes tentando criar meios de “salvar” a estrutura anterior, criando grupos paralelos e o movimento chamado “Leste ZERO”, caracterizando-se como uma tentativa de “refundação” da PJ no Rio de Janeiro. Esta PJ paralela funcionou por mais um ano mas a estrutura de representação regional e nacional não comportavam tal estrutura.
Em meio a toda essa crise, toda a estrutura foi modificada, inclusive o DNJ (Dia Nacional da Juventude) tornou-se um mero encontro de bandas católicas, e os temas propostos pela estrutura nacional, a partir de assembleias com seus grupos de base, ficavam praticamente esquecidos, e, em 2005, já com a responsabilidade de D. Dimas, tentou-se resgatar as discussões e a dinâmicas dos “DNJs” anteriores, claro, até 1995. Com essa “blindagem” da Arquidiocese às determinações nacionais dos encontros da PJ, as informações relevantes ao desenvolvimento, crescimento e amadurecimento da pastoral, principalmente na formação de lideranças, não chegam até os grupos de base.
Como gestar essas novas demandas, pois até os bispos da CNBB reconhecem que “eles mesmos estão distantes da juventude e ainda não sabem como ‘chegar’ e comunicar a essa grupo importante e significativo em nossa sociedade.
Muitos jovens que participam das instâncias religiosas, em particular a Igreja Católica, se voltam para uma religiosidade muito mais individualista e pouco engajada e comprometida com os que mais sofrem. O fenômeno Canção Nova é responsável pela divulgação desses valores, pois tem explorado com muita intensidade os meios de comunicação social e sua repercussão dá a entender à sociedade ser este o modelo único a ser seguido e que não há espaço para qualquer outra manifestação que pense diferente, homogeneizar tudo ao máximo, não relacionar assuntos que dizem respeito à política, principal alvo de críticas destes movimentos às ações da Igreja, em especial nas décadas de 1970 e 1980 e que o fenômeno da chamada “Teologia da Prosperidade” lança a idéia de que, cada vez mais, a busca pelo bem estar pessoal.
Enfim, o empenho atualmente é criar mais espaços para que os jovens manifestem suas características, seus anseios, e que a cultura pode ser esse meio pelo qual tanto temos dificuldades de compreender, em especial às manifestações predominantes nas comunidades menos favorecidas de nosso país.