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sexta-feira, 8 de abril de 2011

Programa Fé e Política - 29 de janeiro de 2011

O Programa Fé e Política apresentou como assunto de destaque a Campanha da Fraternidade de 2011, cujo tema é o Meio Ambiente e para conversarmos a respeito foi convidado Alex Prado, militante desde 1971 pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, ambientalista, morador e integrante da Pastoral do Meio Ambiente, da Paróquia São João Evangelista, no Rio da Prata (Campo Grande).
Alex Prado mostra que existe uma estreita relação entre o tema deste ano e do ano anterior (Fraternidade e Economia): a questão ambiental relacionada com a cultura do consumo do cidadão, de que maneira ele usa seu salário para consumir bens que não prejudiquem a natureza e, de maneira particular no Rio de Janeiro, e no âmbito geográfico, qual a importância da Baía de Sepetiba no contexto não só da preservação de fauna e flora, mas também como área de pólo potencial de turismo.
Apresentando o assunto, relata que as discussões em torno do meio ambiente tornam-se mais intensas após a Conferência Mundial sobre Meio Ambiente, realizada no Rio de Janeiro em 1992.
Ainda é necessário que o processo intenso de industrialização não leva em conta às questões ambientais, por mais que atualmente haja uma intensificação e incentivo às empresas em estarem relacionadas como aqueles que têm responsabilidade social, ressaltando ainda que as questões ambientais também dizem respeito à ocupação urbana da cidade, muito desordenada e que os governos pouco se interessam em aplicar uma política séria e inclusiva nesse campo.
Também o programa contou com a participação do companheiro Angelo, militante da pastoral do Meio Ambiente que atua na região do Barata (Realengo) e que destaca a importância da massificação do tema da Campanha da Fraternidade não só em âmbito religioso (Igreja Católica em particular) mas que seja feita em toda a sociedade.
Angelo também ressalta, assim como Alex Prado, o avanço da especulação imobiliária na região do Gericinó, área que compreende os bairros da Zona Oeste (Deodoro, Vila Militar, Magalhães Bastos e Realengo) até os municípios da Baixada Fluminense (Nilópolis, Mesquita e Nova Iguaçu), além dos projetos antigos que alguns deputados mencionam como forma de “desafogar” o trânsito da Avenida Brasil, numa ligação direta entre a Zona Oeste e a Baixada Fluminense, além de transformar a área num imenso “Aterro do Flamengo”, e o mais grave é a implantação de um lixão clandestino na área de Nilópolis, e, na atual situação, faz-se necessária a informação direta e intensa à população, apostando em sua organização contra tais atrocidades.
Ainda continuando o debate, usando como referência o Texto Base da Campanha da Fraternidade de 2011, na estrutura do capitalismo atual é possível que se trabalhe essa questão do meio ambiente e se existe limite entre o que convenciona-se de progresso casado com a preservação. Refletindo, é possível analisar que essa dicotomia progresso/preservação não se torna possível, pois o capitalismo visa o lucro sem limites, assim da mesma forma que não existe compatibilidade entre amor e vida nesse sistema.
Partindo para a questão interna brasileira, o governo Lula (2003-2010) foi bem sucedido para o avanço da gerência desse sistema capitalista, deu o fôlego suficiente para que este sobreviva, mas ainda pensando numa perspectiva nossa de que ele possa ser superado, após atingir o auge de seu desenvolvimento, e ser destruído numa crise futura, abrindo espaço para novas alternativas. Enxergar a realidade para enfrentá-la, por isso é necessário o fortalecimento das organizações populares, com uma nova cara e novas perspectivas. E a questão ambiental pode ser um desses caminhos em vista dessa nova visão.
Dessa forma, a discussão e a aplicação em prática da reforma agrária se faz urgente e necessária, pois até em países capitalistas ela já acontece, mas essa questão ainda é muito fragilizada no Brasil, que seria uma ótima alternativa para o combate ao desemprego e o processo mais livre para o desenvolvimento sustentável.
Na dimensão teológica, o ser humano já se compreende como a figura mais importante da criação divina e, numa visão equivocada dessa posição, ao acumular bens, se vê como figura de maior destaque ainda. Cabe à Igreja Católica, com a CF 2011 e em outras de suas ações, assim como as outras religiões podem ter esse papel, de serem fundamentais nesse processo, com o maior engajamento de suas lideranças, o que hoje ainda é um grande desafio – e nisso destacamos o papel do clero como precursor dessa mensagem – estimulando a juventude que, historicamente, tem um papel fundamental no processo das mudanças estruturais da sociedade.
Voltando à discussão do tema da CF 2011, a linguagem da Igreja durante o período de reflexão do assunto, deve ser catalisadora dos anseios da base, como preocupação diária, não só em pequenos gestos de não jogar lixo na rua, separar o lixo, não jogar lixo nos rios, mas exigir também do governo que seja mais intensa a fiscalização e punição às empresas que insistem em degradar e destruir o meio ambiente.
Assim, o ser humano citado na Bíblia, criado à imagem e semelhança de Deus, não deve ser só esse “parecido” com seu Criador, não agir por conta própria, impulsivamente, mas de maneira que introjete a sua missão e função de “dominar”, não domar e destruir, mas que seja pleno e intenso seu amor e seu cuidado com a natureza.
Retornando o debate aos temas locais, em particular a cidade e o Estado do Rio de Janeiro, a região apresenta problemas drásticos e cruciais à discussão envolvendo o meio ambiente; área que esteve muito tempo atrelada aos interesses centrais; em seguida, após os governos de Leonel Brizola, caracterizam-se governos que atendem, sem qualquer medida, aos interesses das elites locais, demonstrando um atraso político e quase um completo abandono da União em relação ao Rio de Janeiro.
Como não poderia deixar de ser mencionada, a questão ambiental passa fundamentalmente pela preservação da saúde e, em termos institucionais, o fortalecimento da atuação do SUS nos Estados e municípios se faz necessário para a solução dos problemas na saúde pública, além de ações governamentais efetivas em outros setores (infra-estrutura, transportes, ciência e tecnologia, educação, etc).
Voltando às questões internas da Igreja Católica, é enfatizado novamente a importância da atuação do clero católico na questão ambiental, em particular, pois são produzidos ótimos documentos reflexivos e propositivos e que não têm a eficácia na aceitação de sua base clerical e, já tendo essa preocupação, o arcebispo da Arquidiocese do Rio de Janeiro, D. Orani Tempesta, essa postura dos padres tem que começar a mudar e já é sentida algumas mudanças, quando da intensificação das atividades na área de comunicação da arquidiocese. Sobre essa questão da atuação da área de comunicação, lembramos o discurso do próprio arcebispo, numa das celebrações do dia de São Sebastião, que a arquidiocese enviaria pessoas no intuito de relatar os acontecimentos da tragédia da Região Serrana, pois não suportava mais o sensacionalismo barato produzido pela grande mídia.
Como possíveis soluções apontadas no debate: mapear situações críticas de degradação ambiental nos limites da cidade, refletir e interferir diretamente sobre tal situação; exigir o uso de combustíveis alternativos, em particular nos meios de transportes de massa; observar que em cada região o olhar político é diferenciado, mas é unanimidade afirmar que a dinâmica de se pensar a cidade hoje, principalmente veiculada pela mídia, através da palavra de alguns especialistas, de que atualmente a cidade ainda é pensada numa visão e numa lógica elitistas.
Ainda no âmbito mais particular, na Serra da Misericórdia, região onde fica localizada a Rádio Bicuda (Vaz Lobo, Madureira, Cascadura, Vicente de Carvalho), Alex sugere que se intensifique o plantio de arbustos de pequeno porte, e que isso pode ser feito num trabalho de conscientização das autoridades e, principalmente, da população local, por meio de projetos efetivos junto às escolas, entidades religiosas, entidades culturais, etc., incluindo um projeto de profissionalização e posterior remuneração dos trabalhadores locais, tendo pequenas experiências do que seria o desenvolvimento sustentável.
Foi colocado como reflexão o texto do Gênesis 1, 46 que trata efetivamente da missão que Deus concede ao ser humano como guardião da natureza, dominar e domesticar todas as formas de vida sobre a terra. O termo dominar vem do latim domino ou Domine, que significa senhor, interpretado como o senhor de bondade e não o senhor como papel de dominador. Assim, a palavra é viva – e assim se dão as interpretações e sua utilização – o papel distorcido do dominador é aquele que não dá chance à vida, aquele que subjuga e submete, por meio da força. A verdadeira dominação passa pelo processo salvífico, pelo amor e pela preservação da natureza ou do meio ambiente, que se tornam eixos centrais para compreendermos a harmonia e a dimensão da vida.
Para finalizar nossa conversa, fizemos menções sobre personagens que se destacaram como defensores incansáveis das causas ambientais: Chico Mendes, através de sua luta e martírio, projeta a questão para o mundo. Podemos lembrar também de lideranças que hoje são ameaçadas de morte, por disseminarem que a questão da terra é uma questão de justiça, de vida, da mãe terra – como se referem a ela os indígenas – que acolhe seus filhos e lhes dá o suficiente para sua sobrevivência e convivência. Torna-se necessária uma atuação mais intensa de nossa Igreja nas questões de defesa e comunhão com os oprimidos, pois agindo assim, estão ouvindo melhor os apelos evangélicos da mensagem de Jesus, que sempre tem como eixo central a luta por mudanças.

Um comentário:

  1. Bom relembrar esse momento...
    Espero reve-los hoje às 18:30 na ALERJ, pôr ocasião da afirmação da Campanha da Fraternidade no âmbito desta casa legislativa.
    Um abraço. Luta. Paz e Pão, Alex Prado.

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